Em meus mais de 15 anos de prática como ortopedista especialista em coluna, tenho observado um crescimento significativo no número de pais que chegam ao meu consultório preocupados com queixas de dor nas costas em crianças.
O que antes era considerado exclusivo do mundo adulto, hoje se tornou uma realidade cada vez mais presente na infância e adolescência, exigindo nossa atenção e cuidado especializado.
Neste artigo, irei abordar tudo sobre dores nas costas em crianças, causas, fatores de risco, e mais importante, quando é o momento de buscar um especialista para uma avaliação mais detalhada!
A realidade dos números sobre dor nas costas em crianças
Pesquisas brasileiras demonstram que a prevalência de dor nas costas em escolares pode chegar a impressionantes 55,7%. Este número, que inicialmente pode parecer exagerado, reflete uma realidade que vejo diariamente em meu consultório.
Um estudo epidemiológico realizado em Teutônia, Rio Grande do Sul, avaliou 1.597 crianças e confirmou essa alta prevalência.
Os dados mostram que a dor nas costas não é mais um problema exclusivo dos adultos, mas uma condição que afeta mais da metade dos escolares brasileiros.
Em minha prática enquanto profissional especializado em problemas ortopédicos da coluna, observo que essa prevalência aumenta progressivamente com a idade: cerca de 1% aos 7 anos, 6% aos 10 anos e 18% entre 14 a 16 anos.
Estudos internacionais corroboram essa tendência. Pesquisas americanas indicam que aproximadamente 33,7% das crianças e adolescentes entre 10 e 18 anos relatam dor nas costas no último ano.
Na cidade de São Paulo, estudos revelam prevalência de 22,4% em adolescentes entre 15 e 19 anos.
Principais causas e fatores de risco
Existem diversos fatores que contribuem para o desenvolvimento de dor nas costas em crianças.
A análise multivariada de estudos brasileiros demonstra associações significativas com:
- Sexo feminino.
- Histórico familiar de dor nas costas.
- Frequência de exercício físico.
- Tempo gasto assistindo televisão.
- Postura inadequada ao estudar.
- Forma de carregar a mochila.
Observo em meu consultório que as meninas apresentam maior prevalência de dor nas costas comparadas aos meninos.
Este padrão se mantém consistente tanto em estudos nacionais quanto internacionais, sugerindo fatores hormonais e biomecânicos específicos do desenvolvimento feminino.
A hereditariedade representa outro fator crucial. Crianças cujos pais relatam dor nas costas apresentam risco 19% maior de desenvolver o mesmo problema.
Esta informação é fundamental durante minhas consultas, pois sempre investigo o histórico familiar como parte da avaliação diagnóstica.
Quando a preocupação deve ser maior: sinais de alerta
Determinadas situações exigem investigação mais aprofundada. A literatura médica estabelece “red flags” ou sinais de alerta que nunca devemos ignorar.
Crianças menores de 10 anos, especialmente aquelas com menos de 4 anos, que apresentam dor nas costas devem ser sempre investigadas para afastar patologias sérias.
Portanto, fique atento aos seguintes sinais de alerta:
- Dor noturna que desperta a criança.
- Febre associada.
- Perda de peso inexplicada.
- Dor que piora progressivamente.
- Sintomas neurológicos como fraqueza ou formigamento nas pernas.
- Dificuldades para urinar ou evacuar.
A discite, infecção do disco intervertebral, representa uma condição que vejo ocasionalmente em crianças menores de 12 anos.
Esta condição pode não apresentar febre ou alterações laboratoriais evidentes, tornando o diagnóstico desafiador. A ressonância magnética com contraste é fundamental para confirmação diagnóstica.
Condições específicas da infância
Existemi condições particulares que afetam a coluna vertebral pediátrica. A espondilólise e espondilolistese ocorrem em aproximadamente 5% dos casos de dor lombar em crianças.
Estas condições são mais frequentes em jovens atletas que praticam esportes com hiperextensão da coluna, como ginástica, vôlei e saltos.
Estudos mostram que a prevalência de espondilólise em crianças menores de 11 anos é de 2,5%, sendo mais comum em meninos (3,1%) que em meninas (1,5%).
Outro dado é que crianças em idade escolar (6-10 anos) apresentam maior prevalência (3,2%) comparadas às pré-escolares (1,1%).
Abordagem diagnóstica e tratamento
Em meu consultório, inicio sempre com uma anamnese detalhada e exame físico cuidadoso. A maioria dos casos de dor nas costas em crianças são de origem mecânica e autolimitados.
Porém, a presença de sinais de alerta obriga investigação radiológica e laboratorial apropriada.
Para casos sem sinais de alerta, o tratamento conservador inclui orientações posturais, fisioterapia e modificação de atividades. A educação familiar é fundamental, pois muitos hábitos inadequados podem ser corrigidos com orientação adequada.
Estudos americanos mostram que 40,9% das crianças com dor nas costas buscam tratamento, sendo a fisioterapia a modalidade mais comum. Tratamentos invasivos como injeções ou cirurgias são raros, compreendendo apenas 1,6% dos casos.
A importância da prevenção
Minha experiência clínica reforça que a prevenção é fundamental.
Orientações sobre postura adequada, prática regular de exercícios, uso correto de mochilas e ergonomia escolar são essenciais.
Programas educacionais nas escolas mostram-se eficazes na redução da prevalência de dor nas costas em crianças.
Conclusão
A dor nas costas em crianças representa um problema de saúde pública crescente que exige atenção especializada.
Em minha prática como ortopedista de coluna em Goiânia, observo que o reconhecimento precoce dos sinais de alerta e a abordagem adequada são fundamentais para prevenir complicações futuras.
Embora a maioria dos casos seja benigna, a investigação cuidadosa é essencial para não perder diagnósticos importantes.
A educação familiar e a implementação de medidas preventivas desde a infância são estratégias fundamentais para reduzir o impacto desta condição na vida adulta.