A radiculopatia na coluna vertebral é uma condição frequente em meu consultório, afetando pessoas de diversas idades e condições físicas.
Baseado em minha experiência clínica de mais de 15 anos como ortopedista com especialização em afecções da coluna vertebral, observo que muitos pacientes demoram para buscar ajuda médica, o que pode agravar significativamente o quadro.
Este artigo visa esclarecer o que é a radiculopatia, suas causas, sintomas e opções de tratamento, trazendo informações que compartilho diariamente com meus pacientes.
O que são as Raízes Nervosas e sua Importância
A coluna vertebral não é apenas uma estrutura de sustentação do corpo, mas também um canal protetor para a medula espinhal.
Entre cada vértebra da coluna, saem nervos chamados raízes nervosas, que são extensões da medula espinhal e responsáveis por transmitir informações entre o cérebro e diversas partes do corpo.
Estas raízes são como cabos elétricos que conectam o sistema nervoso central (cérebro e medula) aos músculos, pele e órgãos.
Quando essas raízes são comprimidas ou irritadas, surgem os sintomas característicos da radiculopatia na coluna.
Radiculopatia na Coluna: Definição e Mecanismos
A radiculopatia na coluna ocorre quando há compressão, irritação ou lesão de uma raiz nervosa ao sair da coluna vertebral.
Costumo explicar aos meus pacientes que é como um cano de água sendo pinçado – a informação nervosa não consegue fluir adequadamente, causando dor, formigamento, fraqueza ou outros sintomas neurológicos.
Esta condição pode acontecer em qualquer região da coluna, mas é mais comum na região cervical (pescoço) e lombar (parte inferior das costas).
Estudos apontam que aproximadamente 70% dos casos são de radiculopatia lombar, enquanto cerca de 25% são cervicais e apenas 5% afetam a região torácica.
Causas Mais Comuns
As causas mais frequentes de radiculopatia na coluna sâo
- Hérnia de disco: Quando o material gelatinoso do interior do disco intervertebral extravasa através de uma ruptura, pressionando diretamente a raiz nervosa. É um problema frequente em pacientes entre 30 e 50 anos, muitas vezes desencadeado por esforço excessivo ou movimento brusco.
- Estenose do canal vertebral: Estreitamento do canal por onde passam os nervos, geralmente devido a alterações degenerativas. Esta condição é mais comum em pacientes idosos, afetando principalmente aqueles com mais de 60 anos.
- Espondilolistese: Deslizamento de uma vértebra sobre outra, reduzindo o espaço disponível para a saída do nervo. Tenho observado este problema tanto em jovens atletas com hiperextensão frequente da coluna quanto em idosos com degeneração articular avançada.
- Osteófitos (bicos de papagaio): Crescimentos ósseos anormais que podem comprimir as raízes nervosas. São achados comuns em radiografias de pacientes acima dos 50 anos.
- Traumatismos: Fraturas ou lesões traumáticas da coluna que alteram a anatomia normal e afetam as raízes nervosas, sendo mais frequentes após acidentes automobilísticos ou quedas de altura.
Sintomas e Manifestações Clínicas
Os sintomas da radiculopatia na coluna variam de acordo com a raiz nervosa afetada e a gravidade da compressão.
Confira abaixo os sintomas mais comuns:
Radiculopatia Cervical
Quando a compressão ocorre no pescoço, os pacientes geralmente relatam dor que irradia para os ombros, braços e até os dedos das mãos.
Muitos descrevem sensação de “choque” ao movimentar o pescoço. Também é comum haver formigamento, dormência ou fraqueza muscular nos membros superiores.
Em casos mais graves, alguns pacientes apresentam dificuldades para realizar movimentos finos com as mãos, como abotoar camisas ou escrever.
Radiculopatia Lombar
Na região lombar, a compressão nervosa tipicamente causa a famosa ciática – dor que se irradia da região lombar para as nádegas, parte posterior da coxa e pode chegar até o pé.
Os pacientes relatam piora da dor ao sentar, tossir ou espirrar. Formigamentos, dormência e fraqueza muscular na perna afetada são queixas comuns, e alguns pacientes descrevem a sensação de “perna pesada” ao caminhar.
Diagnóstico: Da Anamnese aos Exames Complementares
Em minha prática clínica, sempre inicio a investigação com uma detalhada anamnese e exame físico.
A localização precisa da dor, os movimentos que a agravam ou aliviam, e a presença de déficits neurológicos fornecem pistas valiosas.
Testes específicos são realizados, como o teste de elevação da perna estendida para radiculopatia lombar ou o teste de Spurling para radiculopatia cervical, ajudam a confirmar a suspeita clínica.
Para confirmação diagnóstica, geralmente exames de imagem são pedidos:
- Radiografias: Úteis para verificar alinhamento vertebral, altura dos discos e presença de osteófitos. São o primeiro exame que solicito devido à sua disponibilidade e baixo custo.
- Ressonância Magnética (RM): É o exame que oferece melhor visualização das estruturas nervosas e tecidos moles, fundamental para confirmar o diagnóstico e planejar o tratamento.
- Tomografia Computadorizada (TC): Utilizada quando há contraindicação para RM ou para melhor visualização de estruturas ósseas.
- Eletroneuromiografia: Em casos selecionados, este exame é solicitado para avaliar a condução elétrica nos nervos e a função muscular, auxiliando na diferenciação entre radiculopatia e outras neuropatias.
Abordagens Terapêuticas: Da Conservadora à Cirúrgica
Tratamento Conservador
Em aproximadamente 90% dos pacientes com radiculopatia na coluna, o tratamento começa com uma abordagem conservadora, que envolve:
- Medicamentos: Uso de anti-inflamatórios não esteroidais para reduzir a inflamação ao redor da raiz nervosa, analgésicos para controle da dor e, em casos selecionados, corticosteroides ou relaxantes musculares. Em alguns pacientes com dor neuropática intensa, medicamentos específicos como pregabalina ou gabapentina apresentam bons resultados.
- Fisioterapia: Exercícios específicos para fortalecimento da musculatura paravertebral, alongamentos e técnicas de tração têm se mostrado muito eficazes, especialmente quando iniciados precocemente.
- Acupuntura: A acupuntura tem obtido ótimos resultados em muitos casos de radiculopatia, principalmente como complemento às outras terapias.
- Infiltrações epidurais: Em casos de dor intensa que não responde ao tratamento medicamentoso, podem ser indicadas infiltrações de corticosteroides no espaço epidural, próximo à raiz afetada.
Abordagem Cirúrgica
Cerca de 10-15% de pacientes com radiculopatia na coluna necessitam de intervenção cirúrgica. Veja as indicações:
- Falha do tratamento conservador após 6-12 semanas.
- Déficit neurológico progressivo.
- Síndrome da cauda equina (emergência que requer cirurgia imediata).
- Dor incapacitante que não responde a nenhuma outra abordagem.
As técnicas cirúrgicas variam conforme o caso:
- Microdiscectomia: Para hérnias discais, onde há a remoção da porção herniada do disco através de uma pequena incisão. Este procedimento possui excelentes resultados na maioria dos pacientes jovens com hérnia de disco lombar.
- Laminectomia descompressiva: Em casos de estenose do canal vertebral, esta técnica amplia o espaço para as estruturas nervosas, aliviando a compressão.
- Artrodese (fusão vertebral): Quando há instabilidade associada, como em casos de espondilolistese, a fusão das vértebras pode ser necessária. São utilizados placas, parafusos e enxerto ósseo para estabilizar o segmento afetado.
- Técnicas minimamente invasivas: Sempre que possível, opto por abordagens menos invasivas, que permitem recuperação mais rápida e menor dor pós-operatória.
Prevenção e Orientações para o Dia a Dia
Uma das partes mais gratificantes de minha prática médica é educar meus pacientes sobre como prevenir recorrências. Minhas recomendações geralmente incluem:
- Manutenção de peso saudável: Cada quilo extra aumenta a pressão sobre os discos intervertebrais e articulações da coluna.
- Fortalecimento da musculatura do core: Músculos abdominais e paravertebrais fortes funcionam como um “colete natural” para a coluna.
- Ergonomia adequada: Adotar posturas corretas ao sentar, levantar pesos e trabalhar.
- Atividade física regular: Prática de natação, caminhada, pilates ou yoga, que fortalecem a musculatura sem sobrecarga excessiva da coluna.
- Técnicas de gerenciamento de estresse: O estresse frequentemente exacerba os sintomas de radiculopatia, por isso, é aconselhável adotar práticas como meditação ou técnicas de respiração.
Conclusão
A radiculopatia na coluna é uma condição que, embora comum, pode impactar significativamente a qualidade de vida.
Com base em minha experiência clínica, posso afirmar que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para um bom prognóstico.
A maioria dos pacientes obtém alívio significativo com tratamento conservador bem conduzido, e mesmo aqueles que necessitam de cirurgia geralmente apresentam excelentes resultados.
Como ortopedista especializado em coluna vertebral, enfatizo a importância da abordagem individualizada.
Cada paciente é único, com suas particularidades anatômicas, funcionais e contextos de vida específicos, o que torna essencial adaptar o tratamento às necessidades individuais.
Com o avanço das técnicas diagnósticas e terapêuticas, o futuro é promissor para os pacientes com radiculopatia, com perspectivas de tratamentos cada vez menos invasivos e mais eficazes.