A hérnia de disco tornou-se uma das principais preocupações de saúde ocupacional no Brasil e no mundo.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 80% da população mundial sofre ou já sofreu com esta condição.
Em minha experiência clínica tratando pacientes com problemas de coluna, uma das perguntas mais frequentes que recebo em meu consultório é: “quem tem hérnia de disco pode trabalhar normalmente?”.
A resposta, embora complexa, é fundamentalmente positiva na maioria dos casos, mas depende de diversos fatores que abordarei neste artigo.
O cenário atual da hérnia de disco no ambiente de trabalho
Os números são alarmantes: hérnia de disco foi a principal causa de afastamento do trabalho no Brasil em 2023, com mais de 51.400 trabalhadores recebendo benefícios por incapacidade temporária.
Este dado representa um crescimento de 68% em comparação com 2022, evidenciando o que especialistas já chamam de “epidemia de hérnia de disco”.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 5,4 milhões de brasileiros apresentam este problema de saúde.
Particularmente preocupante é o fato de que a idade média dos pacientes com hérnia de disco diminuiu de 37 para 30 anos, indicando que profissionais mais jovens estão sendo afetados.
Quem tem hérnia de disco pode trabalhar normalmente? Fatores que determinam a capacidade laboral
A capacidade de trabalhar com hérnia de disco varia significativamente entre os pacientes. A gravidade da hérnia, os sintomas apresentados, o tipo de trabalho desempenhado e a adesão ao tratamento são os principais determinantes.
Gravidade dos sintomas
A hérnia de disco pode variar de leve a grave, causando desde dor nas costas até dor irradiando para as pernas, fraqueza e dormência.
Quando os sintomas são leves e bem controlados com tratamento, a maioria das pessoas pode continuar trabalhando normalmente.
No entanto, sintomas graves e debilitantes podem exigir modificações no trabalho ou licenças médicas temporárias.
Tipo de ocupação
O tipo de trabalho desempenha papel chave na determinação da capacidade laboral.
Ocupações fisicamente exigentes, que envolvem levantamento de peso ou movimentos repetitivos, podem ser mais desafiadoras para pessoas com hérnia de disco.
Por outro lado, trabalhos mais sedentários podem ser mais adequados, embora também apresentem riscos quando envolvem posturas prolongadas inadequadas.
A realidade do tratamento e recuperação
Felizmente, estudos internacionais mostram que 90% dos pacientes com hérnia de disco apresentam melhora com tratamento conservador (não cirúrgico) nos primeiros quatro meses.
Baseado em minha prática como ortopedista especialista em hérnia de disco, posso dizer que aproximadamente 80% das pessoas que seguem adequadamente o tratamento se recuperam e retornam às atividades normais em seis semanas.
Tratamento conservador eficaz
O tratamento inicial deve sempre ser conservador, incluindo o uso de medicamentos, com analgésicos e anti-inflamatórios, fisioterapia, e em alguns casos, bloqueios percutâneos.
A cirurgia é indicada apenas quando há falha no controle da dor, déficit motor importante, ou em casos de emergência médica.
Adaptações no ambiente de trabalho
A chave para manter a produtividade profissional está nas adaptações adequadas. Confira algumas modificações sugeridas no ambiente de trabalho:
- Aquisição de equipamentos ergonômicos
- Ajuste de mesas, cadeiras e posicionamento de computadores
- Pausas regulares para movimentação
- Orientação postural adequada
- Programas de ginástica laboral
Direitos trabalhistas e previdenciários
É importante que os trabalhadores conheçam seus direitos. Quando a hérnia de disco está relacionada ao trabalho, o funcionário tem direito à proteção no emprego durante 12 meses após o retorno.
Além disso, dependendo da gravidade, podem ser concedidos:
- Auxílio-doença para incapacidade temporária
- Auxílio-acidente para incapacidade parcial permanente
- Aposentadoria por invalidez para incapacidade total permanente
Prevenção no ambiente de trabalho
A prevenção continua sendo a melhor estratégia, onde programas de saúde ocupacional têm demonstrado eficácia na redução de afastamentos.
Orientações sobre postura, fortalecimento muscular e educação osteomuscular são fundamentais para prevenir o desenvolvimento de hérnias de disco ocupacionais.
Quando buscar ajuda médica
Recomendo que trabalhadores procurem avaliação com um médico com foco em hérnia de disco ao apresentarem dor persistente nas costas, especialmente se acompanhada de irradiação para membros inferiores, formigamento ou fraqueza.
O diagnóstico precoce e tratamento adequado podem evitar o agravamento do quadro e a necessidade de afastamentos prolongados.
Perspectivas de retorno ao trabalho
Estudos indicam que pacientes com determinadas características apresentam melhor prognóstico para retorno ao trabalho.
A presença de ciatalgia com duração de até seis meses, déficit sensitivo isolado e sinal de Lasègue positivo são fatores prognósticos positivos para o sucesso do tratamento.
Enfatizo com meus pacientes que o acompanhamento multidisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas e profissionais de saúde ocupacional, é essencial para otimizar os resultados e facilitar o retorno seguro ao trabalho.
Conclusão
Quem tem hérnia de disco pode trabalhar normalmente na maioria dos casos, especialmente com tratamento adequado e adaptações necessárias.
Os dados mostram que esta condição, embora seja a principal causa de afastamentos trabalhistas no Brasil, tem prognóstico favorável quando tratada corretamente.
A combinação de tratamento conservador eficaz, modificações no ambiente de trabalho e programas de prevenção pode permitir que milhões de brasileiros mantenham sua produtividade profissional mesmo convivendo com hérnia de disco.
O sucesso do retorno ao trabalho depende fundamentalmente da colaboração entre paciente, equipe médica e empregador para criar um ambiente que permita a continuidade das atividades laborais de forma segura e eficaz.