As doenças posturais representam um grupo significativo de condições que afetam milhões de brasileiros anualmente.
Em minha experiência clínica de mais de duas décadas, tenho observado um aumento alarmante desses problemas, especialmente após a pandemia e o crescimento do trabalho remoto.
As doenças posturais são desvios na postura normal do corpo que podem causar dor, desconforto e, eventualmente, alterações estruturais no sistema musculoesquelético.
Estas condições não apenas impactam a qualidade de vida, mas também representam um custo significativo para o sistema de saúde – estima-se que aproximadamente 15% dos afastamentos do trabalho no Brasil estejam relacionados a problemas relacionados à postura.
O que caracteriza as doenças posturais?
As doenças posturais são caracterizadas por alterações no alinhamento normal da coluna vertebral e outras estruturas anatômicas, resultando em sobrecarga mecânica em músculos, tendões, ligamentos e articulações.
Na prática médica diária, observo que estas condições geralmente se desenvolvem gradualmente, muitas vezes sem que o paciente perceba até que os sintomas se tornem significativos.
Dados de um estudo da Universidade de São Paulo indicam que cerca de 80% dos adultos brasileiros experimentarão algum tipo de problema postural ao longo da vida.
Entre os fatores que contribuem para o desenvolvimento dessas condições, destaco:
- Hábitos diários inadequados, como permanecer sentado por longos períodos em posição incorreta.
- Carregar peso de maneira imprópria.
- Utilizar equipamentos ergonomicamente inadequados.
Em meus pacientes, tenho notado uma correlação direta entre o uso prolongado de dispositivos eletrônicos e o aumento de problemas cervicais – um fenômeno que pesquisadores internacionais denominaram “text neck” ou pescoço de texto.
Principais tipos de doenças
Os tipos mais comuns de doenças posturais são:
Escoliose
Caracterizada por uma curvatura lateral anormal da coluna vertebral, afetando entre 2% e 4% da população brasileira, sendo mais comum em adolescentes, especialmente meninas.
A escoliose pode ser classificada como idiopática (sem causa conhecida), congênita ou neuromuscular.
Hiperlordose
Aumento excessivo da curvatura lombar, que é uma condição frequentemente associada à fraqueza muscular abdominal e ao excesso de peso.
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul demonstrou que aproximadamente 30% dos trabalhadores de escritório desenvolvem algum grau de hiperlordose após cinco anos de atividade profissional.
Hipercifose
Caracterizada pelo aumento da curvatura torácica, levando ao aspecto popularmente conhecido como “corcunda”. Esta condição pode resultar de osteoporose, doenças degenerativas ou maus hábitos posturais.
Tenho observado em meus pacientes idosos que a hipercifose está presente em cerca de 40% dos casos, frequentemente associada à diminuição da densidade óssea.
Protrusão cervical
Projeção anterior da cabeça, sobrecarregando a região cervical. Este problema tem se tornado epidêmico com o uso constante de smartphones.
Uma pesquisa internacional publicada na Spine Journal revelou que cada centímetro de protrusão cervical aumenta em até 4,5 kg a pressão sobre a coluna cervical.
Diagnóstico
O diagnóstico adequado é fundamental para o tratamento efetivo. Na minha prática como ortopedista especializado em tratamento de doenças posturais, combino diferentes abordagens para assegurar uma avaliação completa.
Inicialmente, realizo uma anamnese detalhada, buscando entender os hábitos diários, histórico de dores e limitações funcionais do paciente.
Na avaliação física, utilizo técnicas específicas como o teste de Adams para escoliose, análise postural com fio de prumo e avaliação da amplitude de movimento articular.
Estas avaliações permitem identificar desequilíbrios musculares e alterações posturais sutis que muitas vezes passam despercebidas pelo próprio paciente.
Exames complementares como radiografias, tomografias computadorizadas e ressonâncias magnéticas podem ser necessários para casos mais complexos.
Um estudo multicêntrico brasileiro demonstrou que a combinação de avaliação clínica e exames de imagem aumenta a precisão diagnóstica em até 87% nos casos de desvios posturais significativos.
Impactos na qualidade de vida
As consequências das doenças posturais vão muito além da dor física. Meus pacientes frequentemente relatam impactos significativos em sua vida social, profissional e emocional.
Pesquisas da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia indicam que pessoas com problemas posturais crônicos têm probabilidade 40% maior de desenvolverem quadros de ansiedade e depressão.
No aspecto econômico, o impacto é igualmente relevante.
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que problemas relacionados à coluna vertebral, incluindo doenças posturais, representam a segunda maior causa de afastamento do trabalho no Brasil, gerando custos estimados em R$ 2,1 bilhões anualmente para a previdência social.
Tratamento e reabilitação
O tratamento das doenças associadas à postura deve ser individualizado e multidisciplinar. Em minha clínica, frequentemente coordeno equipes compostas por fisioterapeutas, educadores físicos e, quando necessário, psicólogos para abordar todos os aspectos da condição do paciente.
A fisioterapia desempenha papel fundamental no tratamento, enfocando o fortalecimento da musculatura estabilizadora da coluna, alongamentos específicos e reeducação postural.
Técnicas como o Método Pilates e a Reeducação Postural Global (RPG) têm demonstrado excelentes resultados, com estudos clínicos reportando melhora de até 70% nos índices de dor e funcionalidade após 12 semanas de tratamento regular.
Em casos mais graves ou refratários ao tratamento conservador, intervenções cirúrgicas podem ser necessárias. Tenho observado avanços significativos nas técnicas minimamente invasivas que permitem correções posturais com menor tempo de recuperação e menos complicações pós-operatórias.
Prevenção
A prevenção continua sendo o melhor “tratamento” para as doenças posturais:
- Adoção de mobiliário ergonômico adequado ao trabalho e estudo.
- Prática regular de atividade física, especialmente exercícios que fortaleçam a musculatura core.
- Manutenção de peso saudável para reduzir a sobrecarga articular.
- Pausas regulares durante o trabalho para alongamentos e mudança de posição.
- Utilização correta de dispositivos eletrônicos, mantendo-os ao nível dos olhos.
Um estudo longitudinal conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais demonstrou que programas de educação postural nas escolas reduziram em 36% a incidência de problemas posturais em crianças acompanhadas por cinco anos.
Conclusão
Como especialista dedicado ao estudo e tratamento das doenças ligadas à postura, tenho acompanhado com entusiasmo o desenvolvimento de novas tecnologias diagnósticas e terapêuticas.
Sensores de movimento, aplicativos de monitoramento postural e dispositivos de feedback em tempo real estão revolucionando tanto o diagnóstico quanto o tratamento destas condições.
Acredito que o futuro do tratamento de problemas posturais estará na personalização terapêutica baseada no perfil genético, biomecânico e comportamental de cada indivíduo, permitindo intervenções mais precisas e eficazes.
A prevenção, educação e conscientização continuarão sendo pilares fundamentais, onde pacientes bem informados e engajados em seus processos de tratamento obtêm resultados significativamente melhores e mais duradouros.