Como especialista em coluna vertebral, recebo diariamente em meu consultório pacientes com uma dúvida muito comum: compressa quente ou fria para dor na lombar? Qual é mais eficaz?
Esta questão aparentemente simples envolve conceitos importantes sobre fisiologia da dor e mecanismos de cicatrização que fazem toda a diferença no resultado do tratamento.
A lombalgia representa uma das principais causas de procura por atendimento médico em meu consultório ortopédico com foco em coluna vertebral.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 80% da população mundial experimentará pelo menos um episódio de dor lombar durante a vida, sendo considerado um problema de saúde pública de proporções globais.
A prevalência da dor lombar no Brasil
No Brasil, os números são igualmente alarmantes. Estudos mostram que a prevalência de dor lombar crônica varia entre 4,2% e 14,7% da população, com uma média nacional de dor crônica em geral chegando a 45,59%.
Observo que essa prevalência tem aumentado significativamente, especialmente após a pandemia de COVID-19, quando houve um incremento de mais de 22% nos casos de dorsalgia e lombalgia.
A explicação para esse aumento está relacionada às mudanças nos hábitos de vida: maior tempo em home office, uso de mobiliário inadequado, redução da atividade física e aumento do sedentarismo.
Em meu consultório, atendo frequentemente pacientes que desenvolveram dor lombar após longos períodos trabalhando em sofás ou cadeiras inadequadas durante o período pandêmico.
Compressa quente ou fria para dor na lombar?
A escolha entre compressa fria ou quente para dor na lombar deve ser escolhida com base no tipo e fase da lesão.
Compressa quente: quando e como usar
As compressas quentes são particularmente eficazes para dores crônicas e tensões musculares, com excelentes resultados em pacientes com lombalgia crônica.
A aplicação de compressas quentes promove vasodilatação, aumentando o fluxo sanguíneo local, facilitando a chegada de nutrientes e oxigênio aos tecidos, além de promover o relaxamento da musculatura paravertebral, que frequentemente encontra-se contraturada nos processos dolorosos.
Estudos internacionais demonstram que a terapia com calor contínuo e de baixa intensidade pode proporcionar alívio significativo da dor lombar.
Uma pesquisa controlada mostrou que pacientes tratados com compressas térmicas apresentaram redução de 33% na dor comparado ao uso de acetaminofeno e 52% comparado ao ibuprofeno.
Para aplicação correta, recomendo:
- Aquecer água em temperatura suportável pela pele
- Aplicar por 15 a 20 minutos
- Repetir 3 a 4 vezes ao dia
- Proteger a pele com uma toalha fina
Compressa fria: indicação para fases agudas
As compressas frias têm indicação específica para lesões agudas, principalmente nas primeiras 48 horas após o trauma.
Sempre oriento meus pacientes que sofreram “mau jeito” ou trauma direto na coluna a utilizarem gelo nos primeiros dois dias.
O mecanismo do frio baseia-se na vasoconstrição, que reduz o fluxo sanguíneo local, diminuindo a formação de edema e hematomas.
Além disso, o frio possui efeito anestésico, bloqueando impulsos nervosos e proporcionando alívio imediato da dor.
A aplicação deve seguir protocolo específico:
- Repetir 3 a 4 vezes ao dia
- Nunca aplicar gelo diretamente na pele
- Utilizar bolsa de gelo envolta em toalha
- Aplicar por 15 a 20 minutos
Evidências científicas
Uma revisão sistemática Cochrane analisou nove estudos envolvendo 1.117 participantes e concluiu que existe evidência moderada de que a terapia com calor proporciona pequena, mas significativa, redução da dor e incapacidade na lombalgia aguda e subaguda.
Embora as evidências para o frio sejam mais limitadas, algumas pesquisas mostram benefícios específicos em condições agudas.
Em minha experiência de anos tratando pacientes com lombalgia, observo que a escolha correta entre compressa quente ou fria para dor na lombar pode acelerar significativamente o processo de recuperação.
Pacientes que seguem adequadamente as orientações sobre termoterapia normalmente relatam melhora mais rápida dos sintomas.
Terapia de contraste: combinando frio e calor
Em casos específicos, a terapia de contraste, que alterna compressas frias e quentes, pode ser recomendada
Esta técnica provoca contração e dilatação alternada dos vasos sanguíneos, aumentando a circulação no local afetado, sendo particularmente útil em inflamações crônicas e distensões musculares.
Quando buscar ajuda médica especializada
Embora as compressas sejam métodos seguros e eficazes, é fundamental saber quando procurar avaliação médica.
Se os sintomas não melhorarem em 7 dias, mesmo com uso adequado de compressas, é necessária avaliação especializada. Veja alguns sinais de alerta:
- Dor irradiada para as pernas
- Formigamento ou perda de força
- Dor noturna intensa
- Febre associada
- Perda do controle esfincteriano
Prevenção e cuidados importantes
Durante anos de prática clínica, aprendi que a prevenção é sempre o melhor tratamento. Oriento meus pacientes sobre ergonomia adequada, fortalecimento da musculatura central e manutenção de peso corporal saudável.
Cuidados especiais devem ser tomados em pacientes diabéticos, que podem ter sensibilidade diminuída e maior risco de queimaduras.
Conclusão
A questão sobre compressa quente ou fria para dor na lombar não possui resposta única, pois depende fundamentalmente do tipo e fase da lesão.
O calor mostra-se superior para dores crônicas e tensões musculares, enquanto o frio é mais eficaz para lesões agudas nas primeiras 48 horas.
As evidências científicas, embora limitadas, favorecem o uso do calor na lombalgia. O mais importante é a avaliação individualizada e o seguimento adequado dos protocolos de aplicação.
Como especialista em patologias da coluna, sempre enfatizo que as compressas são tratamentos adjuvantes valiosos, mas não substituem a avaliação médica adequada quando necessária.
O sucesso do tratamento da dor na lombar usando compressa quente ou fria reside na escolha correta do método, aplicação adequada e, principalmente, no tratamento das causas subjacentes da lombalgia.