O bico de papagaio na coluna afeta milhões de brasileiros, causando dor e limitação dos movimentos.
Como especialista em tratamento de problemas da coluna vertebral, frequentemente recebo em meu consultório pacientes preocupados após descobrirem que têm “bico de papagaio”.
Esta condição, cientificamente conhecida como osteofitose, caracteriza-se pela formação de projeções ósseas nas bordas das vértebras, que lembram o bico da ave em questão quando observadas em radiografias.
Neste artigo, abordo as causas, sintomas e as melhores opções de tratamento disponíveis atualmente, desde métodos conservadores até abordagens cirúrgicas quando necessárias.
O que é o bico de papagaio na coluna?
O bico de papagaio na coluna ocorre quando há desgaste dos discos intervertebrais, fazendo com que as vértebras se aproximem demasiadamente.
Como resposta adaptativa, o corpo desenvolve essas estruturas ósseas adicionais (osteófitos) nas bordas das vértebras. Essencialmente, trata-se de uma resposta do organismo para estabilizar a coluna vertebral quando os discos perdem altura e elasticidade.
Em minha experiência clínica de mais de duas décadas, observo que esta condição pode afetar qualquer região da coluna – cervical, torácica ou lombar – e, embora seja parte do processo natural de envelhecimento, nem sempre provoca sintomas.
Causas e fatores de risco
O envelhecimento natural das estruturas ósseas é a principal causa do bico de papagaio, geralmente começando a se manifestar por volta dos 45 anos.
Entretanto, tenho notado um número crescente de pacientes mais jovens apresentando esta condição devido a outros fatores de risco.
Entre os principais fatores que aceleram o desenvolvimento do bico de papagaio na coluna estão:
- Má postura mantida ao longo dos anos.
- Sobrepeso e obesidade.
- Sedentarismo.
- Doenças preexistentes como hérnia de disco, artrite reumatoide e osteoartrose.
- Condições autoimunes como espondilite anquilosante, lúpus e esclerodermia.
- Hábitos como tabagismo e alimentação inadequada.
- Predisposição genética.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 80% da população mundial já teve ou terá problemas relacionados à coluna vertebral, o que demonstra a magnitude deste problema de saúde.
Sintomas e diagnóstico
Os sintomas variam consideravelmente entre meus pacientes. Enquanto alguns apresentam osteófitos visíveis em exames de imagem sem qualquer manifestação clínica, outros sofrem com:
- Dor intensa na região afetada da coluna.
- Dor irradiada para membros (coxas, pernas ou braços).
- Formigamento nos membros superiores (quando na cervical) ou inferiores (quando na lombar).
- Diminuição da força muscular.
- Rigidez e limitação dos movimentos da coluna.
Em casos mais graves e raros, há pacientes com dificuldade para controlar a urina ou as fezes quando há compressão nervosa significativa, ou dificuldade para engolir quando o bico de papagaio afeta a região cervical.
O diagnóstico que realizo em meus pacientes geralmente inclui um exame físico detalhado e radiografias simples, que costumam ser suficientes para visualizar os osteófitos.
Em casos de suspeita de compressão nervosa, solicito uma ressonância magnética para avaliar com maior precisão as estruturas neurológicas.
Tratamentos conservadores para o bico de papagaio
Em minha prática clínica, inicio o tratamento do bico de papagaio na coluna com abordagens conservadoras, que são eficazes para a maioria dos pacientes:
Medicamentos
Prescrevo analgésicos e anti-inflamatórios para aliviar a dor e reduzir a inflamação. Em casos mais intensos, posso recomendar injeções de corticosteroides próximas à área afetada.
Fisioterapia especializada
Encaminho meus pacientes para fisioterapia, componente fundamental do tratamento. O fisioterapeuta desenvolve programas personalizados que incluem:
- Exercícios para fortalecer os músculos ao redor da coluna.
- Técnicas de terapia manual para restaurar a biomecânica das estruturas.
- Termoterapia (aplicação de calor ou frio) para aliviar a dor.
- Massagem terapêutica para reduzir a tensão muscular.
- Eletroanalgesia em casos específicos.
Modificações no estilo de vida
Oriento meus pacientes sobre a importância de:
- Manter o peso adequado.
- Praticar atividade física regular sob orientação.
- Corrigir a postura durante atividades diárias.
- Adotar uma alimentação balanceada que favoreça a saúde óssea.
Quando a cirurgia é necessária?
Em aproximadamente 10% dos com bico de papagaio na coluna, os tratamentos conservadores não são suficientes para aliviar os sintomas, especialmente quando há compressão significativa de estruturas nervosas.
Nesses casos, procedimentos cirúrgicos como a laminectomia ou laminotomia são indicados, que consistem na remoção do excesso de tecido ósseo que está comprimindo nervos ou a medula espinhal.
O procedimento pode variar dependendo da localização e gravidade dos osteófitos.
A cirurgia normalmente envolve:
- Anestesia adequada ao procedimento.
- Incisão na área afetada da coluna.
- Remoção cuidadosa do tecido ósseo excessivo.
- Em alguns casos, fusão de vértebras para proporcionar maior estabilidade.
- Fechamento da incisão com suturas ou grampos.
O pós-operatório requer hospitalização por alguns dias, repouso adequado, uso de medicamentos para controle da dor e, posteriormente, fisioterapia para recuperação da mobilidade e força.
Prevenção e cuidados contínuos
Sempre enfatizo aos meus pacientes que, embora não exista cura definitiva para o bico de papagaio na coluna, é possível prevenir seu agravamento e minimizar os sintomas com cuidados contínuos:
- Manter postura adequada ao sentar, andar e dormir.
- Evitar carregar peso excessivo.
- Praticar exercícios que fortaleçam a musculatura da coluna.
- Realizar pausas e alongamentos durante atividades que exijam posição estática prolongada.
- Manter acompanhamento médico regular.
Conclusão
O bico de papagaio na coluna, embora seja parte do processo natural de envelhecimento para muitos, não precisa ser sinônimo de dor e limitação.
Em minha experiência tratando dezenas de pacientes com esta condição, tenho observado excelentes resultados quando o diagnóstico é precoce e o tratamento é multidisciplinar.
A combinação de medicamentos adequados, fisioterapia especializada e mudanças no estilo de vida permite que a maioria dos pacientes mantenha uma boa qualidade de vida, mesmo convivendo com os osteófitos.
Para casos mais graves, as intervenções cirúrgicas modernas oferecem alternativas seguras e eficazes.
Como cirurgião ortopédico de coluna em Goiânia, recomendo que, ao primeiro sinal de dor persistente na coluna, procure avaliação médica.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para um prognóstico favorável.