Como ortopedista especialista em cirurgias minimamente invasivas da coluna vertebral há mais de 15 anos, tenho observado em minha prática clínica diária um crescente número de pacientes diagnosticados com nódulo de Schmorl.
Esta condição, apesar de relativamente comum, ainda é cercada de dúvidas tanto entre pacientes quanto entre alguns colegas de profissão.
Os nódulos de Schmorl representam uma herniação do núcleo pulposo do disco intervertebral para o interior do corpo vertebral adjacente, formando uma protrusão característica.
Observo que muitos pacientes chegam ao consultório com dores lombares persistentes sem causa aparente, apenas para descobrirmos, após exames de imagem adequados, a presença destes nódulos.
O que são os nódulos de Schmorl
Os nódulos de Schmorl consistem na herniação (migração) do disco intervertebral para o interior da vértebra.
Assim sendo, não apresentam potencial cancerígeno e é importante frisar que eles não são nódulos verdadeiros.
Em meu consultório, frequentemente utilizo a analogia de um “afundamento” do disco para dentro da vértebra, o que facilita a compreensão por parte dos pacientes.
Esta condição foi descrita pela primeira vez em 1927 pelo patologista Christian Georg Schmorl, e continua a desafiar nossa compreensão completa de sua fisiopatologia.
Os nódulos de Schmorl são muito frequentes na população, sendo observados em 40 a 60% das pessoas. Além disso, eles são mais frequentes no sexo masculino e na transição entre a coluna torácica e a coluna lombar.
Causas do nódulo de Schmorl
Existem diversas causas potenciais para o desenvolvimento do nódulo de Schmorl. Compartilho com meus pacientes que há várias teorias para explicar seu aparecimento, e é possível que esses fatores ocorram em conjunto.
As principais causas incluem:
- Trauma – A energia resultante de uma queda ou acidente, por exemplo, resultaria em falha/lesão da parede vertebral com penetração do disco intervertebral neste local.
- Sobrecarga – A carga aumentada nessa região de forma constante também estaria implicada com seu desenvolvimento. Há um aumento significativo de casos em esportistas ou trabalhadores que pegam muito peso e estão sob risco aumentado.
- Alterações embrionárias – Alterações da vascularização dessa região durante o período embrionário que persistem durante a fase adulta fragilizam a parede vertebral.
- Predisposição genética – Há tendências familiares sugerindo predisposição genética a processos inflamatórios autoimunes e osteonecrose desta região.
- Doenças degenerativas – Pacientes com doenças como a Cifose de Scheuermann têm maior probabilidade de desenvolver nódulo de Schmorl.
Sintomas e Manifestações Clínicas
Um aspecto que sempre enfatizo em minhas consultas é que, felizmente, na maioria das vezes o nódulo de Schmorl é assintomático e não necessita de nenhum tratamento ou investigação.
São frequentemente descobertos por acaso durante exames de imagem realizados por outros motivos, o que chamamos de diagnóstico incidental.
No entanto, em cerca de 15% dos indivíduos, esta condição poderá causar lombalgia e dorsalgia.
Em pacientes sintomáticos, os nódulos que causam sintomas geralmente apresentam certas características específicas:
- Maior tamanho.
- Presença em número elevado.
- Inflamação associada (visível em ressonância magnética).
É importante mencionar que em determinadas situações eles podem aumentar o risco de fraturas osteoporóticas e estarem associados a doenças específicas da coluna.
Diagnóstico
O diagnóstico do nódulo de Schmorl começa com uma anamnese detalhada e exame físico completo. O principal exame nestes casos é a ressonância magnética da coluna, pois além do diagnóstico, ela é capaz de mostrar se há inflamação associada.
Embora a tomografia computadorizada e a radiografia mostrem o nódulo de Schmorl, eles não confirmam se há inflamação e qual é realmente a fonte da dor, sendo é fundamental estabelecer a correlação clínico-radiológica antes de atribuir os sintomas aos nódulos.
É bastante comum o diagnóstico incidental, ou seja, solicito exames por outros motivos e observo a presença do nódulo de Schmorl por acaso.
Por isso, sempre explico cuidadosamente aos meus pacientes o significado deste achado para evitar preocupações desnecessárias.
Tratamento
Os casos assintomáticos não necessitam de tratamento. Esta é uma notícia que tranquiliza muitos dos meus pacientes que descobrem esta condição incidentalmente.
Para os pacientes que apresentam dor, é importante que sejam avaliados de forma detalhada para se confirmar a real origem dos sintomas. O diagnóstico preciso configura um dos pontos mais difíceis do seu tratamento.
A abordagem terapêutica geralmente inclui:
- Tratamento inicial clínico:
- Medicações específicas.
- Fisioterapia para fortalecimento da musculatura paravertebral.
- Mudança de hábitos diários e orientações ergonômicas.
- Na falha do tratamento clínico:
- Tratamentos minimamente invasivos como infiltrações.
- Em casos selecionados, vertebroplastias (injeção de cimento na vértebra).
- Casos extremos:
- Artrodese lombar (fusão vertebral) é reservada para casos raros onde todas as abordagens anteriores falharam.
Vale ressaltar que o tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa, mas a maioria dos casos sintomáticos responde bem ao tratamento conservador quando realizado adequadamente.
Dicas de Cuidados
Para pacientes assintomáticos, a orientação é manter uma vida normal, com atividade física regular e cuidados posturais básicos.
Já para aqueles com sintomas, as orientações são:
- Fortalecimento da musculatura paravertebral.
- Adoção de boas práticas ergonômicas nas atividades diárias.
- Evitar sobrecargas excessivas na coluna.
Para grupos específicos:
- Atletas: Atenção à técnica correta nos exercícios e períodos adequados de recuperação.
- Trabalhadores com carga física: Cuidado com ergonomia e técnicas corretas de levantamento de peso.
- Pacientes com osteoporose: É necessária uma avaliação regular da densidade óssea e tratamento específico.
Conclusão
Ao longo de minha carreira como ortopedista especialista em patologias da coluna vertebral, tenho observado que o nódulo de Schmorl, embora comum, ainda gera ansiedade desnecessária entre os pacientes quando este diagnóstico aparece em seus exames.
Como especialista, observo que o conhecimento sobre os nódulos de Schmorl tem evoluído significativamente, permitindo abordagens mais precisas e individualizadas.
Procuro sempre desmistificar esta condição para meus pacientes, reforçando seu caráter geralmente benigno e as boas perspectivas de tratamento quando necessário.